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Foto do escritorTaís

Felicidade


Esta foto é, literalmente, o retrato da minha

felicidade. Eu, meu irmão do meio, meu primo mais velho, a nossa avó e a casa.


Ah... A casa! A minha casa!


É assim que a sinto apesar dela ser muito mais antiga do que eu e nem pertencer mais à nossa família.


Eu amava esse macacão, ele era amarelo, mas um amarelo escuro, e era feito de um tecido que parecia uma toalha de banho, só que mais fininha.

O pai sempre dizia que se o mundo um dia acabasse, eu certamente estaria com este macacão e com a mão na cintura. Ainda hoje quando me pego assim, acho graça.


A gente tem manias que traz desde criança. Eu tenho pelo menos duas. Uma é por a mão na cintura, a outra é esfregar a mão nos olhos quando quero pedir alguma coisa para alguém. Tem quem chame isso de dengo, mas eu não sei de nada disso, não.


Meu avô foi um dos primeiros moradores da rua, no tempo em que ela era ainda um descampado de chão batido. Todo mundo a conhecia como a casa do Coronel. É perto do Jockey Clube em Porto Alegre, muito brinquei por lá.


Esta casa é testemunha da minha vida, do meu nascimento até os 23 anos. Entre todas nossas idas e vindas, ela era a única coisa que se mantinha constante. Ela era minhas férias, o palco do teatro da minha avó, o porto seguro do meu avô. Me viu crescer, chorar, virou o QG das minhas amigas na adolescência.


Está vendo aquela casa ali ao lado? Ali foi a festinha que a mãe não deixou eu ir e meus colegas gritaram meu nome do pátio a noite toda! Era dessa casa que eu escapava para ir para o Bar do João, na Av. Osvaldo Aranha, aí que ganhei o roupão rosa pink de aniversário de 15 anos. A minha história está ai em cada tijolo que sustenta esta construção.


Sonho com ela muito seguido. Quando me dou conta, estou lá em um tempo suspenso, uma época indefinida mas é para lá que eu sempre volto como se houvesse um fio invisível que nos ligasse uma a outra.


Nesta foto era Verão, íamos para casa da vó nas férias e ela cometia a loucura de chamar meu primo para passarmos uns dias juntos. Era uma micro célula terrorista e ela sempre se arrependia depois. Guerra de água no pátio, guerra de uvas verdes da parreira do vô, ataque de aviões de papel na sala cheia de bibelôs, era filme de terror.


Meu primo sempre levava os melhores brinquedos do mundo, coleções de Playmobil, forte apache, autorama e esta bazuca de bolinhas que ele carrega na foto. A mãe controlava a gente só no olhar, quando arregalava os olhos verdes a gente já sabia que a coisa ia ficar feia, mas na casa da vó, com o primo super-herói que podia tudo e com a mãe longe a gente fazia o diabo!


Toda vez que vou a Porto Alegre visito minha casa. Ainda vive lá o coqueirinho que a vó plantou. Ele está imenso, ultrapassou a altura da casa mas deve ter ainda meu nome gravado com canivete, registro indelével da minha presença.

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