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Foto do escritorTaís

Irmãs Gêmeas


A Morte é assustadora, mas não deveria ser pois ela é irmã gêmea da Vida.

Nascem juntas, andam pela mesma rua em calçadas diferentes, separam-se por um período indeterminado para depois juntarem-se novamente.

A Vida, às vezes, também é assustadora. A diferença é que a Vida, nós conhecemos, ou pelo menos achamos que conhecemos. E entre as duas há o Tempo, e o Tempo é o maior mistério entre todos.

Não temos consciência do quanto vivemos em função dele. O tempo se esvai na rotina do dia a dia e no passar dos anos.

No mistério do que já foi e na incerteza do que ainda será. Tempo que escorre invisível pelas nossas mãos.

Tenho pensado nisto tudo pelo luto que vivo, mas quero dizer que estou bem e que espero não encontrem tristeza em tudo que digo, apenas amor e esperança.

Eu soube do luto da minha bisavó, ela vestiu preto para nunca mais tirar e parece que o sorriso e a alegria foram banidos de sua vida e que toda felicidade que se achegasse, chegava também com um tipo de culpa por estar viva.

Vi o luto da minha avó, que não permitia que ligássemos rádio ou televisão, não podíamos falar alto, nem expressar nada além de pesar.

Quando criança, tive uma colega de origem judaica que depois de sumir por uma semana da escola, tivemos que ir até sua casa para fazer um trabalho. Espelhos eram cobertos com um pano, todos enfeites retirados da sala, a família não saia de casa para atividade alguma. As pessoas falavam sempre olhando para baixo sem olhar nos olhos de ninguém.

Isto foi marcante para mim.

O luto deveria ser o tempo que nos damos para assimilarmos nossas perdas, para compreendermos a ausência, para entendermos que a presença da saudade vai ser constante, e aprendermos que não temos realmente controle sobre nada.

Um grande amigo uma vez me disse que a Morte tem uma função pedagógica imensa, e que ela diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre quem se foi.

Custei para compreender o que ele quis dizer.

A Morte tem a ensinar coisas que vão muito além da perda física. Choramos, nos desesperamos muito mais por nós mesmos do que por quem se foi. Sofremos por medo, por apego, por um amor egoísta que se recusa a deixar partir quem precisa seguir adiante.

Quando uma pessoa querida parte, parte da gente vai junto e uma reflexão muito profunda sobre todos nossos propósitos se torna constante. Coisas que eram valiosas perdem o valor, os pequenos gestos do dia a dia se tornam imensos em significado.

Colocamos a nossa existência em xeque e disto podem nascer bons pensamentos. E esta talvez seja a única diferença entre elas:

A Morte ensina coisas sobre a Vida, mas a Vida não nos ensina nem nos prepara em nada para encarar a Morte.

Tenho pensado apenas no Tempo e no que vou fazer com ele até o dia do reencontro destas duas irmãs. Esta é a nossa única certeza e ainda assim a negamos e tememos.

Não há como controlar o Tempo, mas esta foto é, para mim, um momento em que o Tempo parou.

22 -XII-2018

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