Ele me disse isto em um dos poucos e-mails que trocamos. Ele não gosta de e-mails, na verdade, os detesta. Mesmo assim, respondeu aos que enviamos. Levamos algum tempo pra acreditar que ele nos oferecera sua amizade, afinal ele é "famoso".
Gentil, educado, um cavalheiro que com tantas coisas muito mais importantes para fazer nos dava um pouco da sua atenção. A razão disso é — segundo ele — enxergar valor no que fazemos e no que somos, ou para ser mais exata, na parte nossa que expomos nas redes sociais, porque a rigor, ainda não nos conhecíamos.
Um dia acordei e tinha uma mensagem dele no meu celular perguntando em que momento poderia me ligar pois tinha um assunto importante a tratar. Foram o quê? Dez, vinte, trinta segundos olhando pra tela sem mover um dedo?
Nove da manhã, eu toda escabelada, tentando estabelecer as primeiras conexões de pensamento e já fui acordada com esta mensagem inusitada. É impressionante como algumas situações tem o poder de me paralisar, especialmente se elas forem boas, ou boas demais para parecer verdade.
Fiquei pensando no que ele poderia querer comigo, no que iria dizer caso me perguntasse algo, e o medo de parecer boba foi se tornando algo real e iminente.
Depois de refletir por alguns minutos, pensei comigo mesma que o mais sensato era falar naturalmente (e pouco), ouvir o que ele tinha pra dizer e não arriscar palavras nem assuntos muitos difíceis porque certamente iria me complicar — quase sempre me complico.
Respondi a mensagem e ele ligou dando bom dia, dizendo meu nome com aquele sotaque carioca que chia nos ésses finais. Falamos sobre o tempo, sobre os impostos, sobre os filhos, sobre o preço das coisas, sobre as diferenças culturais entre Brasil e Portugal. Falamos sobre a vida em geral e também sobre o assunto importante.
Ele me explicou que estava na fase final da produção do seu livro e que gostaria muito que eu escrevesse a orelha de sua obra. Foi um daqueles momentos únicos onde mil coisas passam pela cabeça. O convite de alguém que tanto admiro misturado ao senso de responsabilidade em fazer algo à altura, somado ao fato de me deparar com a generosidade pura de uma pessoa tão importante e querida de todos nós.
Imediatamente me veio à memória o que ele havia dito no e-mail. Ele falara a verdade, é um cara simples sim, é "um de nós", a fama é mesmo um mero acidente. Ah gente... como precisamos de mais pessoas "simples" como ele! Pessoas como o Pedro, o Pedro Cardoso.
Um dia eu conto como foi o primeiro dia que nos encontramos, e os outros encontros subsequentes. É importante falar sobre como amizades sinceras são possíveis sem barreiras e sem fronteiras. Apesar de toda complexidade das relações que se estabelecem pelos meios virtuais, coisas muito lindas podem acontecer. Comigo acontecem, e muito.
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