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  • Foto do escritorTaís

O meu Sete


Sair com a minha avó era sempre garantia de uma programação, no mínimo, inusitada. Ela estava sempre inquieta, buscado algo para fazer. E lá ia eu, fiel escudeira, acompanhar a minha heroína!


Visitando Pelotas, minha terra Natal, nos deparamos com a porta do Theatro Sete de Abril aberta, um passaporte ao seu passado.


Adentramos ao teatro silencioso, aquela paz que só encontramos em templos. Olhei o palco, as cadeiras e as cortinas. Senti a magia no ar enquanto ao fundo ela narrava a sua estreia, como bailarina, aos 12 anos de idade.


"Encabulei, fiquei mocinha bem no dia da estreia, mas dancei." — disse ela.


Fui andando em direção ao palco e ela me chamando: "Guria, vem para cá! Não sabemos sem tem gente aí" E eu nem bola, o palco era como um imã, mais especificamente o que pressentia ter atrás dele.

Nunca fui de holofotes, me agradam mais os bastidores.


Quando estava a um passo de subir ao palco, ouvimos uma batida de porta. Minha avó correu — em vão — para constatar que estávamos as duas trancadas no velho teatro, que agora tinha virado o centro da nossa trama.


E eu lá, se ela bobeasse invadia a coxia, mas senti que ela ficou assustada. Dei uma última olhada e fui para perto dela. Não sabia se ria ou se chorava. Ela estava engraçada batendo na porta e gritando:


" Alô, alô, tem alguém aí!?"


Ainda tentei dar a minha brilhante e desinteressada contribuição sugerindo que fôssemos atrás do palco para ver se havia alguém por lá. Queria a todo pano saber o que tinha por trás das cortinas, mas não colou.


"Para-te-quieta, guria. Te sossega aqui. Estamos presas!" — ela exclamou.


Não sei quanto tempo durou nosso cárcere, mas logo ouvimos vozes que vinham do outro lado da porta. Para ela foi um alívio, para mim um balde de água fria.


Estavam quase chamando os bombeiros quando ouvimos o barulho das chaves na fechadura. O porteiro, que tinha saído há pouco, assustou-se com a pequena multidão que se formou à porta do Teatro e voltou para conferir sobre o que se tratava.


Estávamos livres.


A minha estrela saiu do teatro triunfante no meio daquele tumulto, quase como que se pisasse no tapete vermelho, e eu ali na posição que mais adorava estar: ao seu lado, observando e gravando cada detalhe para poder depois contar como agora o faço aqui.


Devia ter meus 11 anos, não mais que isso.

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